O ano de 2022 ainda nem começou, mas já movimenta o País nas esferas sociais e, principalmente, na economia. Por ser um ano eleitoral, fato que por si só já causa sozinho grande comoção no mercado, o período que se aproxima deverá ser marcado por questões como o risco fiscal, inflação, porém, com expectativas de retorno de investimentos.
Mesmo em um período de recessão técnica, após dois trimestres seguidos de queda do Produto Interno Bruto (PIB), o Brasil vive a experiência do aumento de investimento de pessoas físicas em rendas variáveis.
Levantamento da B3, a bolsa de valores brasileira, mostra crescimento de 43% do número de investidores no primeiro semestre de 2021, em comparação com o mesmo período de 2020. Em outubro, a B3 atingiu 4 milhões de contas de pessoas físicas em renda variável, uma marca histórica.
Esses indicadores mostram que o brasileiro está cada vez mais consciente de que investir e planejar seus investimentos é um bom negócio e, segundo o sócio da V Corp Capital, Marcelo Estrela, principalmente, há necessidade de orientação para o investimento personalizado.
“Esses últimos meses de bolsa negativa foram muito positivos para o nosso lado [profissionais do mercado de capitais], porque, de fato, ficou evidente a necessidade do suporte profissional para a realização dos investimentos. Mesmo diante desse cenário de queda, quem investiu está ciente das operações e de certa forma, lendo a situação, na expectativa que esse jogo vire em 2022”, afirma ele.
A V Corp Capital é um escritório de agentes autônomos de investimentos contratado pelo Banco BTG Pactual e especializado no atendimento ao segmento corporativo, seus acionistas e executivos, localizado em Goiânia.
Expectativas
Conforme explicação de Marcelo Estrela, o ano de 2021 começou com os agentes prevendo uma taxa de juros de 2% e a inflação na casa de 4%. Na avaliação dele, isso poderia ser algo morno, no entanto, o ano está acabando com uma taxa de juros de 9,25%, após sucessivos aumentos, e a inflação em torno de 10%.
De acordo com o especialista em investimentos, isso diminuiu o poder de compra das pessoas e chacoalhou as reservas, mas ele prevê a inversão deste cenário. “Faltou dinheiro. Por exemplo, uma pessoa que guardou R$ 1 mil por mês para pagar a escola do filho, que é reajustada pela inflação, e investiu o dinheiro em algo sem risco para garantir o pagamento ao final do ano, viu o dinheiro render cerca de 4%, e o reajuste da escola em 10%. Ou seja, as pessoas perderam poder de compra, mas para o ano que vem, a expectativa é que isto seja invertido: inflação na casa de 5% e juros 11,5%. Com isso, as pessoas voltam a querer o porto seguro, a garantia de retorno, com juro real. Nesse cenário, deve sobrar um pouco de dinheiro”.
Em uma analogia com um jogo de futebol, Estrela ressalta a noção de prazo e como isso pode mudar as perspectivas de ganho para o ano que vem.
“Se você pensa a curto prazo, 2021 foi o 1° tempo do jogo e 2022 será o segundo tempo, o que você está querendo me dizer é que está tomando de 5 x 0 e aí você aceita que vai perder, e apenas não quer tomar mais gol. Agora, se a gente olhar a longo prazo, 2021 como os 5 primeiros minutos do jogo, com confiança no time e querendo esboçar uma reação, com um tempo mais longo, você tem condições de reajustar jogadores e não perder esse jogo. Como nada está muito definido, as expectativas estão assim”, completa ele.
Em relação às eleições presidenciais de 2022, o sócio da V Corp Capital pensa que por si só o processo eleitoral já desestabiliza o mercado. Contudo, chama a atenção para especificidades do próximo pleito. “Estamos em um país emergente, a política sempre desestabiliza o mercado. Agora é a primeira vez que não temos um novato entre os líderes das pesquisas eleitorais, são um ex-presidente e o atual presidente que encabeçam a disputa, e que já são conhecidos pelo mercado. As pessoas têm medo do desconhecido, mas eleição tende a chacoalhar a situação”, afirma.
Investimentos diversificados
De acordo com Estrela, devemos pensar a carteira de investimentos como um time de futebol. Ele aponta como se comporta cada tipo de operação, conforme o risco e ousadia das operações: “O goleiro é reserva de emergência. O Tesouro SELIC, Certificados de Depósito Bancários (CDB’s) de liquidez imediata com remunerações superiores a 100% do Certificado de Depósito Interbancário (CDI) e Fundos de Crédito Bancário servem para não tomarmos gol, principalmente para defender pênaltis (as emergências). Já os zagueiros são a renda fixa. Debêntures, Certificados de Recebíveis Imobiliários ou do Agronegócios e Fundos de Crédito Privado também atuam para não tomarmos gol. Dessa maneira, é de se esperar que eles não façam gol, ou que façam com menor frequência”.
Já em relação aos meio-campistas, o especialista aponta para os fundos de multimercados. “Às vezes eles voltam para ajudar a defesa, às vezes eles armam o ataque e às vezes eles até vão eles mesmos e fazem o gol”, declara. Por fim, os atacantes são as rendas variáveis. “Ativos listados em bolsa como ações e fundos imobiliários, fundos de ações nacionais e internacionais e até criptoativos são aqueles jogadores que têm a função de marcar gol”, completa.
Marcelo Estrela destaca, ainda, que da mesma maneira que o futebol não tem um time só de zagueiros ou um time só de atacantes, a carteira de investimentos precisa ser composta por um conjunto de jogadores que têm funções diferentes, com um bom técnico e, por isso, é tão importante a diversificação desses investimentos.
“Quando me perguntam o que esperar de 2022 eu respondo: “Depende. Você não quer tomar mais gol ou tá afim de empatar ou até mesmo virar esse jogo, mas correndo risco de tomar mais gol? Cada cliente é dono do seu time e nós, assessores de investimentos, somos os treinadores que vamos buscar os melhores jogadores para a estratégia de cada um deles, mas trabalhamos para não levarmos nenhuma goleada”, finaliza.